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A Presença Afro na Cidade de São Paulo
A Presença Afro na Cidade de São Paulo

Este artigo é uma reflexão sobre a presença afro-brasileira na cidade de São Paulo entre os séculos XVII à XIX que teve a sua origem em palestra feita na Fundação Casa em 2.008, em comemoração ao dia da Consciência Negra.

A escravidão afro na cidade de São Paulo se difere do modelo apresentado pela mídia em diversas telenovelas baseadas nos romances do século XIX, pois aqui não há nem a senzala e muito menos o tronco, instrumentos da opressão como figuras do escravismo rural. Porém, a grande característica dela era a mobilidade do grupo pelos espaços públicos da cidade. Diversos locais do centro velho de São Paulo estão associados à memória cultural, física, e material desta população, porém a mesma encontra-se ora invisível devido á força do progresso, ora apagada pela política da Câmara Municipal em substituir nomes de largos, praças, ruas etc. Ou relegadas à segundo plano pelos intelectuais da cidade, negando assim a memória do grupo étnico. Em São Paulo, o ciclo do ouro, em Goiás, Mato Grosso e Minas, beneficiou as elites locais duplamente, primeiro o acesso às riquezas, e segundo, a articulação do tráfico para regiões mineradoras passa pela cidade, permitindo que elas se tornem em senhores de escravos africanos. Estes poucos escravos circulavam pelo então distrito da Sé, a região da Liberdade, Sé, Santa Ifigênia Por exemplo, a Ladeira da Memória (junto ao vale do Anhangabaú) que era o local onde ocorria a venda de escravos na cidade. Becos, bicas, chafarizes, fontes, largos, vielas etc, eram os espaços públicos da circulação dos negros em São Paulo. A visibilidade africana ganha formalidade com a criação da irmandade religiosa da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em 1.711 e depois com a construção da Igreja em homenagem a esta santa entre 1.725-1.757, no Largo do Rosário (hoje, Praça Antônio Prado) – o grande detalhe ela foi construída pelos escravos da cidade. As ruas adjacentes ao templo afro-católico eram o território desta comunidade, ali residiam, faziam suas festas e seus enterros. A rua das casinhas ( a atual rua do Tesouro) era a área de comércio local, onde os africanos adquiriam as ervas para diversas finalidades. Além da igreja e irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos (que situa-se hoje, no atual Largo do Paissandu), outro templo associado a irmandades africanas na cidade é o dedicado a Santa Ifigênia, que dá nome ao bairro. Igrejas e irmandades refletem um problema social de época, a segregação religiosa – os negros estavam proibidos de entrar nas igrejas dos brancos e de serem enterrados junto delas. Somente em 1.774 a questão dos sepultamentos foi resolvida com a criação do cemitério junto a Igreja dos Aflitos (Liberdade). A presença e a circulação dos africanos na cidade nutria nas elites brancas locais o temor, ganhando maior força a partir de 1.765 com o refluxo dos escravos das antigas regiões mineradoras para São Paulo. Os escravos eram punidos em dois lugares: na Praça do Pelourinho, (hoje, Largo Sete de Setembro, atrás do Fórum João Mendes), e na chácara do “Quebra-Bunda”, no atual bairro do Paraíso. Eram executados no Largo da Forca. Onde, hoje se localiza a Igreja dos Enforcados (Liberdade). Os africanos condenados à morte faziam o trajeto Várzea do Carmo (Pque. D. Pedro II) até a Liberdade pela atual rua Tabatinguera, com passagem obrigatória pela Igreja N. Sra. da Boa Morte, na rua do Carmo, onde paravam para rezarem por sua almas.

*Wilson F. Jecov é professor universitário e especialista em cultura afro e de História da E. E Stefan Zweig. Em 2008, fez uma palestra na Fundação Casa, sobre a presença afro no centro da cidade de São Paulo nos séculos XIX e XX, tendo como referencia o dia da Consciência Negra, na qual se baseou para este artigo. Entre 2010 e 2011, conclui o curso de especialização em DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR, defendendo as medidas afirmativas de inclusão da comunidade afro-brasileira na educação superior, apresentando como tema, “A discriminação no Ensino Superior Luso-brasileiro no final do século XVII”. Até aquele momento o STF não tinha julgado o mérito da lei federal sobre as cotas para estudantes afros no Ensino Superior.