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Veja X Carta Capital
Veja X Carta Capital

Juremir M. da Silva - Jornalista REVISTA PRESS ADVERTISING EDIÇÃO 108

Mais uma vez, a mídia fracassou numa eleição. Fiasco maior, inclusive, que o das pesquisas. Ao longo da campanha que resultou na reeleição de Lulla, a mídia tentou de todas as formas influir no resultado. Não conseguiu. Os teóricos da comunicação e os militantes simplórios, habituados a culpar a mídia por todos os males do mundo, já não sabem o que dizer. Afinal, a mídia é todo-poderosa e faz o que bem entende do público ou não passa de uma fracassada máquina de manipulação? As revistas deram com os burros n"água. Veja e Carta Capital engalfinharam-se numa luta ideológica cuja única vítima foi a credibilidade jornalística. Carta Capital, como se sabe, é a Veja da esquerda. Ambas vivem de ideologias e de adjetivos. Ambas sabem tudo o que é bom para a nação e até para a humanidade. Na Veja, o gaúcho Jerônimo Teixeira decide até quem tem razão em disputas de especialistas em genética. Outro dia, ele distribuiu pontos positivos e negativos para deterministas e culturalistas. Numa guerra complexa, em que todos parecem ter razão, Veja limpa a área e se declara determinista. Tudo é genético. Principalmente o ideologismo da revista. O melhor humor do país sempre aparece nas páginas amarelas, uma seqüência de entrevistas com obscuras celebridades americanas. Uma delas descobriu, graças a uma pesquisa encorpada, que todo mundo mente. Mais ainda, revelou que os políticos mentem muito mais e profissionalmente. Uau! Durante o governo de Lulla, Veja fez um excelente trabalho denunciando os escândalos, enquanto Carta Capital tentava encontrar desculpas para tudo. Diogo Mainardi, com sua ironia devastadora, fez o melhor jornalismo investigativo e de opinião dos últimos tempos. Mas, na reta final, Veja despencou para a campanha escancarada. A edição sobre o filho de Lulla - embora correta no conteúdo, pois o Lullinha cresceu em nome do pai - não passou de um prato requentado, grotesco e sem "gancho". Não havia fato novo. A motivação era velha: tentar derrubar Lulla. A direita estava cansada de intermediários. Para que ter Lulla governando como tucano se seria possível ter um legítimo tucano no cargo? Além disso, havia a possibilidade de economizar a graninha do Bolsa-Família. Não colou. O povo sabe, como qualquer empresário ou exportador, votar por interesse. O eleitor comum não é diferente do Blairo Maggi. Sabe votar com o bolso. Mesmo quando isso parece absurdo ou contraditório. Enfim, somos um povo sabiamente cínico. Carta Capital, em todo caso, resolveu vender a idéia de que o tal "dossiê" era da mídia. Ainda não consegui entender essa tortuosa e genial linha de raciocínio. Fiquei com a impressão de que se tratava de uma antiga opinião de Raimundo Pereira. Ele e Mino ainda sonham em dar as cartas ao capital. Por enquanto, conseguem bons anunciantes na capital. Não deixa de ser uma façanha. Veja chegou ao cúmulo de fazer um editorial contra uma charge do gaúcho Santiago. Foi um dos momentos mais interessantes do jornalismo brasileiro do século XXI. Ideologia explícita contra ideologia obscena. Ou o jornalismo ideologicamente pornográfico. Os chargistas acreditam ser os únicos jornalistas objetivos, neutros e imparciais do planeta. Por isso atacam publicações tendenciosas como a Veja. Santiago, num surto de opinião imparcial pró-Lulla, bombardeou Veja, que, embora em campanha pró-Alckmin, defendeu-se em nome da velha e boa neutralidade, alegando ter causado os mesmos estragos (ou maiores) para Collor e FHC. Foi a glória para Santiago. Veja fez o melhor e pior nos quatro anos de reinado de Lulla. Denunciou mais e melhor do que todos. Não se intimidou. Porém, acabou confundindo denúncia com política. O problema de Veja é que ela quer fazer campanha e ser imparcial ao mesmo tempo. Poderia simplesmente se declarar favorável a um candidato e assumir as suas posições sem ruborizar. Não funciona assim. A explicação para isso é simples: Veja não opina. Sempre tem razão. Veja não defende interesses. Identifica o certo e o errado. Não se compromete com visões parciais ou limitadas. Capta a totalidade e a complexidade do universo. Parece até a Carta Capital. Mais perfeito do que isso, claro, só a Rede Globo. Pobre mídia, tão rica e poderosa e tão incapaz de conduzir a ralé ao curral das urnas eletrônicas. Ninguém viu nada.